sexta-feira, 24 de junho de 2016

Agressão por racismo, não podemos nos calar!


Há certos tipos de agressões nas quais a vítima é quem se sente envergonhada, não o agressor.  No caso dos estupros por exemplo, que muitas vítimas não contam por medo ao julgamento social e até por vergonha.
No caso do racismo, ocorre algo similar. Quando te chamavam de “macaco” no colégio era você quem sentia vergonha, nunca o racistinha da vez.
O sistema nos faz crer que o racismo é paranóia e/ou vitimismo. Pra que? Pra que aceitemos submeter-nos à opressão, pois negando a realidade não poderemos mudá-la.
É fundamental olhar pra isso de frente, deixar a hipocrisia de dizer “eu nunca sofri racismo”, se você é preto sofreu sim! Ou de aceitar calados a frase “o Brasil não é racista”, mentira!
E me coloco de exemplo, confesso que demorei muitos anos até conseguir falar abertamente sobre a maior agressão racista que eu já sofri, digo a maior porque esta ultrapassou a barreira do psicológico, me deixando sequela física, para que eu nunca me esqueça:
Quando eu tinha 17 anos de idade, uma sexta-feira a noite estava com uma amiga tomando uma casquinha no MC Donald´s. Um grupo de 4 moças desconhecidas ficaram incomodadas com a minha presença desde que entraram, encaravam e comentavam algo entre elas. Não demorou muito pra que elas viessem até a minha mesa, começaram os insultos racistas mais variados possíveis... Confesso que no começo escutei e até retruquei, mas após alguns minutos ouvindo xingos, entendi que eu não sairia dali ilesa... E assim foi, 3 delas me agrediram, mas o pior  foi que 1 delas mordeu o meu dedo anelar da mão direita. Digo o pior porque foi a maior dor que já senti e as consequências foram muito sérias, tive uma infecção gravíssima e quase precisaram amputar. Tive osteomelitis no dedo por causa da infecção e perdi as articulações e por tanto movimento dele, perdi também o ano letivo entre idas e vindas de hospitais, cirurgias e pouquíssimas noites de sono por conta da dor...

O fato é que depois daquele episódio fui procurada por advogados, jornais e até um canal de TV quis me entrevistar, eu me neguei, não queria falar sobre aquilo, o sentimento que eu tinha era de profunda humilhação, odiava ter que ser a pessoa a responder o motivo pelo qual uma desconhecida me mordera... Não via a lógica de mais exposição. 
Hoje, 14 anos depois, quando alguém me pergunta o que me aconteceu neste dedo e eu digo que fui mordida por uma pessoa, me perguntam por que? Quando respondo: por racismo, a reação é sempre a mesma: Sério???? Como se os racistas fossem ficção, algo inventado ou exagerado por nós.
Por isso destaco a importância de falar, compartilhar, mas principalmente de expor aquele que realmente deve envergonhar-se ou ocultar-se, pois tenho absoluta certeza de que os racistas não podem, se quer imaginar, o mal que causam por algo tão fútil e até mesmo brega, como não gostar da cor do outro. 
Não nos calemos, é importante contar, desabafar e bater o pé com força. Afinal, vai me dizer que você nunca sofreu racismo?

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6 comentários:

  1. Muitos gays nao apenas levam mordidas mais foram MORTOS pelo PRECONCEITO. Jovens que sofrem com obesidade ou qualquer coisa que fuja o padrão do aceitável ja viveram a mesma situação e muitos com a pressão cometem suicídio. Eu ja levei pedradas nas costas e fui insultada além de macaca de muitas outras coisas que iam além de apenas cor !

    RACISMO e a comprovação de uma superioridade genética humana e muitas vezes e usado como arma política pra impedir a entrada ou permanência de determinada Etnia que é considerado em modo inferior definidos com o termo de "raça" igual aos animais .

    A verdade e subjetiva podemos nos reunir em uma mesa onde cada um que esteve presente naquela situação iria dar o seu ponto de vista daquele mesmo fato. As responsáveis de tal agressão deveriam se denunciadas e ouvidas pra saber exatamente o real motivo de tal ação se foi por inveja, preconceito ou ate mesmo confundiu você com alguém ou alguma rival-

    Ja sofri ameaça de agressão e que teria as minhas roupas , corpo e cabelos arrancados por esse grupo de mulheres que por detalhe não eram BRANCAS e sim NEGRAS!Por dessas as ameaças fugi da onde morava e não voltei mais ao AFRO REGGAE mais isso e uma demonstração que a maldade humana existe independente da cor de pele da pessoa e que não se pode resumir tudo em uma palavra como RACISMO. Busque mudanças sem querer BOICOTAR a vida e trabalho de outras pessoas não posso condenar o mundo inteiro pelas suas dores ou pontos de vista.

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    1. Querida "anônimo", sinceramente acho que você não entendeu o post.

      Primeiramente gostaria de esclarecer que no meu caso houve denuncia, audiência e sentença condenatória por RACISMO sim!

      Por outro lado, estou completamente de acordo com você em que a maldade humana independe de raça. Mas este blog foi criado como um espaço de representatividade Negra e é sobre o "nosso drama" que eu vou falar.

      Respeito a sua opinião e agradeço que tenha dedicado parte do seu tempo neste desabafo.
      Abraços

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    2. Lamentável tudo isto! Mas a luta continua! Vamos que vamos!

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  2. CONTO DE FESTA JUNINA
    Eu Edson Tsukada, aos meus 9 ou 10 anos de idade, fui escolhido pela professora para participar de uma dança de quadrilha. No primeiro ensaio dancei com uma menina de cor branca e muito bonita por sinal. Já no segundo ensaio, na formação dos pares, procurei a minha até então parceira e lhe dei a mão para irmos para a nossa posição, ela imediatamente se negou a me dar a mão e começou a chorar. Entrei em parafusos e não entendi nada! Pensei: o que será que fiz de errado para ela?
    A professora logo se aproximou, me tirou do meio e disse que eu aguardasse uma nova parceirinha pois aquela não iria mais dançar comigo. Logo vi a menina, agora sem o choro ao lado de um garoto branco ensaiando e nesse meio tempo a mãe dela chegou para falar com a professora. As duas trocaram algumas palavras e me fitaram de longe, e eu observava tudo ali em pé e atônito sem entender uma virgula sequer do que estava acontecendo, só sei que fui sacado. Depois de muitos anos, já adulto, fui entender que ali eu havia sofrido um dos primeiros atos de discriminação e preconceito velado e escancarado da minha vida. Bola para frente, vida seguiu e fui ser feliz em várias outras áreas e hoje posso tranquilamente passar conhecimentos e experiências de preconceitos e superação. Torço para que novos "Edsinhos" não passem por que passei, simplesmente porque pais e familiares "plantam" em seus filhos o RACISMO E PRECONCEITO. E tudo o que se ensina para uma criança ela leva com ela até a morte. Veja o perigo de uma má educação. Em tempo: No primeiro ensaio estávamos todos felizes! Deduzo que bastou a menina chegar em casa e falar sobre o seu "parceirinho" de dança, para que o MUNDO de ódio e rancor gratuito e fútil desabasse sobre ela.
    É TEMPO DE MUDANÇA! TEMPO DE ENTERRARMOS OS DINOSSAUROS E MONSTROS QUE NOS ASSOLAM.

    Edson Rufino/ ET

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    1. Maravilhoso Edson! Ensinamento pra todos nós!

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    2. Maravilhoso é poder compartilhar um pequeno momento da minha vida com alguém realmente preocupado com a integridade de um semelhante.

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